quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Vício da doença

O Vício de estar doente, não sei se é exclusivo do nosso país, mas desconfio que sim.
Acho que vem a par com o sentimento de coitadinho. Gostamos de ser os coitadinhos e há maior razão para ser coitadinho do que estar doente!? Sim, é razão mais pertinente, porque o importante é a saúdinha… se não há saúdinha… já sabem, coitadinho!
Até os nossos telejornais exploram esta nossa faceta de coitadinhos, a não ser que exista um acontecimento altamente escandaloso (é o que “vende”) que dê para explorarem até à última gota dando notícias que não o são (tipo… Maddie!?), gostam sempre de partilhar a história de um(a) desgraçado(a) qualquer com “o país”. E seja por uma razão ou por outra, é um bom recurso, desgraçados há sempre!

Há desgraçados de vários tipos mas os que mais enternecem o “povão” é o doentinho! O coitadinho que por mais que faça não tem acesso aos cuidados médicos que precisa. A questão que se põe é: Estamos em Portugal! Mas há alguém, sem ter uma pipa de massa, que tenha efectivamente acesso aos cuidados médicos que precisa, e também muito importante, na altura em que precisa!?
Exacto! Na verdade a empatia não é por piedade, é por se sentirem identificados! Na verdade somos todos coitadinhos, que é como nós gostamos.
A única maneira de nos safarmos de ser coitadinhos, é não adoecermos de todo. E é difícil convencer as pessoas por cá que não estão doentes!

Mas mais do que as “histórias da vida” com que os nossos telejornais nos presenteiam diariamente, há sempre uma notícia para a saúde… Ou melhor, sobre a doença.
Ele é cegos, diabéticos, hipertensos, stressados… E depois a cereja no topo do bolo, a estatística de quantas pessoas existem com aquele problema! E raramente é menos de 1 milhão de pessoas com aquela doença. Eu desconfio que é a contar com os doentes, os que são mas não sabem, os que não são mas vão ser…

Ora se temos 1 milhão de pessoas por doença no país, tivermos em conta que temos sensivelmente 10 milhões de habitantes e que certamente existem bastante mais que 10 doenças a aparecer na televisão como alarmantes… Ou somos todos, sem excepção, doentes e a maioria acumula umas quantas doenças… ou para haver alguém saudável há outra que deve reunir as doenças todas… Um que acaba por ser cego, surdo, mudo, diabético, hipertenso, sei lá mais o quê, e com tanta doença, não admira que seja stressado!

Não digo que de facto não existam muitas pessoas com aquelas doenças, que muitas vezes são doenças provocadas por hábitos pessoais e que até deve haver algum motivo para alarme para o problema não se tornar maior. Mas acham mesmo que a política do terror ajuda? Que o senhor ou senhora está doente, todos percebem, o difícil é convencer as pessoas que aquilo não foi azar mas sim consequência dos seus hábitos, que por acaso são partilhados por grande parte da população…

O Vício da doença acentua-se com a idade. Claro que pessoas com mais idade têm maior tendência para acentuar as doenças que já tinham antes e arranjar novas, mas acredito que se a esperança de vida é cada vez maior se calhar é porque fisicamente estão em melhores condições e por isso vivem mais tempo. É que se for para estar igual ou ainda mais doente mas durar mais tempo não parece fazer sentido, além de ser mau negócio!
De certeza que já ouviram os debates acessos entre comadres para decidir afinal quem está mais doente. Esgrimem convictamente com todas as doenças que têm e os vários medicamentos que têm que tomar (sabem sempre o nome deles todos). No final, raramente alguma se dá por vencida e declaram um empate técnico. Mas ficam felizes porque são pelo menos tão desgraçadinhas como a outra.
E se algum dia for essencial saberem com exactidão o tempo que vai fazer amanhã, é só perguntarem a qualquer senhora mais idosa como é que está dos ossos…

A ancestralidade deste vício vê-se pela adoração e deferência que prevalece pelos “dealers”… Claro que estou a falar dos médicos!
O Sr. Doutor tem sempre razão, excepto quando diz que não está doente, nesse caso é incompetente. Podem inventar as doenças que quiserem que até agradecem, dizer que até se é saudável, isso é que não!
E os Srs. Doutores, que gostam do tratamento real, já aprenderam o jogo, quando alguém se queixa de alguma coisa existem vários princípios que se devem seguir: assumir que é necessário tratamento, receitar os medicamentos e mandar fazer os exames depois. Quando se cumprem estas regras, o trato com os pacientes é irrelevante, podem ser as maiores bestas, porque a resposta vai ser sempre “Sim, Sr. Doutor!”.

Já me aconteceu uma conversa deste tipo:
- “Não estou a ver nada… Mas vou-lhe receitar isto, isto e isto.”
- “Se não está a ver nada de mal, se calhar é melhor esperar que passe...”
Escusado será dizer que receitou os medicamentos na mesma.

Médicos são na verdade p&%$s finas, as pessoas pagam, eles acabam por fazer o que as pessoas querem e deixam-nas deslumbradas, a parte fina é que, eles é que são as p&%$s mas depois as pessoas é que são tratadas abaixo de cão… e deixam!

Será Fetiche?

Toilet Flush

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